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prefácio esperançado
A
empresa
de consultores Penâculos, criada no ano 90, recebeu a encomenda por parte de umha provisória Comissom de Cultura do
partido BNG,
para, por 250.000 pts., aconselhar a
Junta da Galiza,
no caso de ser governada por este partido após umhas próximas
eleiçons,
sobre como lançar um projecto ilusionante na indústria editorial em
idioma galego.
Esta situaçom representou umha oportunidade para a nossa Nova Consultoria (consultores sem contratos) desafiar as suposiçons sobre o poder cognitivo que atribui o mundo editorial a empresas de relaçons
públicas e nom a grupos liberais de investigaçom de
arte. A nossa proposta foi apresentada em duas fases
à Comissom, a qual, entre outras cousas, pedira à empresa de consultoria que executasse um
estudo de mercado
no sentido de estabelecer qual o papel que o Estado Autonómico deverá desempenhar em relaçom ao
livro em galego.
Naturalmente a proposta começava por recomendar que se efectivasse a existência oficial de tal Comissom por legislaçom imediata, umha vez alcançado o poder político,
e seguia aconselhando o desenvolvimento de um plano de 'marketing' a cinco anos.
Recomendava incluir comissons de planeamento locais e havia outros vários pontos de enquadramento geral a considerar.
Um dos pontos mais controversos advertia sobre o vazio em que a iniciativa se pretendia promover: nom só entre as
camadas populares
em geral havia um
analfabetismo
quase total na língua galega de uso escrito, mas tamém entre o quadro de
funcionários públicos, professores e profissionais
de todo tipo. Nestas condiçons afirmava-se suicida recomendar projecto motivante algum se nom existia
destinatário qualificado. Ainda assim, a consultoria avançou propostas no sentido a remediar conjuntamente os inconvenientes da qualificaçom e da motivaçom para responder à
encomenda. Entre outras cousas recomendou-se à Comissom retomar um princípio constante na história do
galeguismo,
e que tinha ficado como pura retórica esquecida nalgum canto dos velhos programas. Referia-se simplesmente a reforçar as relaçons com "os
irmaos do sul":
qualquer projecto ilusionante passava por divulgar entre a massa analfabeta galega a raiz prestigiada que o seu idioma supunha no meio dum universo editorial e cultural prestigioso, com vários centos de milhons de utentes.
Ora esta proposta começava a chocar gravemente com os interesses e os rumos partidários do BNG, cujo crescimento já se estava dando com o apoio de cidadaos linguística e culturalmente assimilados polo
espanhol.
Além disso, nos quadros desta formaçom chamada a governar iminentemente tinha entrado pessoal que nom só desconhecia aqueles velhos princípios constantes na história do galeguismo, mas que tamém, ao igual que o
professorado de galego
que leccionava em espanhol, começava a fazer política pretensamente galega na dependência exclusiva do sistema central espanhol.
A indicaçom deste último factor deveu causar algum incomodo na Comissom, que foi dissolvida antes de receber a 2ª parte do informe e, por suposto, antes de
pagar à Consultoria o conjunto da encomenda.
Posteriormente Penâculos recebeu pressons nom identificadas para eliminar os materiais
de arquivo referidos a este assunto, e sucederam-se várias circunstáncias inexplicáveis que dificultaram a sobrevivência da consultoria, que tamém acabou por desaparecer. Nem som convenientes para expor aqui mais pormenor
es sobre como a prospecçom se alargou. Mas tudo isto é necessário como ponto de partida e explicaçom do que em concreto hoje se apresenta.
Como membro da empresa de consultores Penâculos ocupei-me,
junto com Svend Age Madsen, o
"louco",
de algumhas variáveis naquele informe final apresentado à citada Comissom.
Foram consideradas pouco relevantes no informe, mas tanto Madsen como eu já as achámos extremamente sedutoras naquela altura para a formulaçom de um "projecto ilusionante". Umha vez extinta a Consultoria, que os dous co-fundáramos
com outras 3 pessoas, só Madsen e eu, cada um por seu lado, continuamos esta pesquisa com
vista a um aproveitamento
estético
dessas variáveis. Ele no terreno
narrativo
e eu no terreno
poético.
Os meus resultados correspondem-se com a declaraçom e proposta que se segue.
Trata-se do "poema global", ao que acrescento dados genéricos e particulares (estes sobre a "novela global") facilitados por Madsen.
Na Consultoria concluíramos que, enquanto o livro clássico vai perviver como fetiche, ampliando a sua vida nos suportes magnéticos, adquirindo várias formas e rostos virtuais, pairando até nas ondas
da
rede internáutica
ou na privacidade do autoconsumo doméstico, dando novos frutos no sentido que foi marcando o OULIPO
francês desde o 67, podem ser propostos novos
"objectos de culto literário", de entre os quais o que
aqui vou apresentar.
Pola minha parte cheguei ao convencimento de que o poema global, ou globema, podia ser um sucesso inquestionável em resposta à pesquisa iniciada na consultoria
Penâculos, embora apresente algumhas dificuldades que só se poderám manifestar
após 4 ou 5 anos, no início do próximo século. Às mesmas conclusons chegou Madsen quanto à glovela.
Os primeiros globos, concluiu ele, serám recebidos de bom grau polos
leitores
que rapidamente vam perceber novas profundidades, adquirindo assim umha visom geral muito mais ampla da existência e das condiçons de vida. A emoçom será comparável à que experimentou
Colombo quando um bom dia tivo um
ovo entre as maos. É fácil imaginar a sua excitaçom no momento em que, após umha ocorr
ência genial, inscreveu, a modo de rascunho, os mundos conhecidos sobre a sua superfície.
O Colombo que até entom tivera de conformar-se com as cartas náuticas planas com as suas margens abruptas.
(Outras cousa bem diferente, diz Madsen, é que a história do ovo de Colombo tenha sido logo malinterpretada e rudamente tergiversada).
No momento em que este primeiro globemário de signo matemático que remete para a esfera, e outros três que tinha previsto, fossem publicados, os livreiros e as
bibliotecas começariam a dar a voz de alarme. Os globos seriam tomados como eminentes inovaçons,
obras de arte
significativas, cujo signo natural seria encontrar-se em qualquer biblioteca. Se houver lugar para eles. Porque os depósitos de livros ficariam bem cedo completamente ultrapassados polas publicaçons do clube de leitores de novos globemas e a
inda de glovelas, já que seria o relato breve ou novela a que mais crescimento iria ter, depois do natural nascimento no terreno poético, que hoje celebramos. E, nos respeitáveis lares literários, os
pianos de cauda veriam-se semeados de esferas.
Nenhumha tentativa de oferecer umha soluçom prática ao problema do depósito seria inteiramente satisfatória, concluiu o meu colega.
É de prever que apareçam livros pequenos, para que possam ser
inchados antes de iniciar a sua leitura.
Ou que sejam equipados com umha corrente para poderem ser guardados um dentro do outro, de maneira a ter um globo base, com muitas capas por cima.
Com isto, o que se encontre dentro de todos os demais, no interior dos outros globos, tornaria-se extremamente
inacessível.
Apareceriam dobráveis, para que, seguindo um desenho engenhoso, pudessem ser
comprimidos e colocados nas estantes ao lado dos livros planos de antigo.
Sem embargo, acabaria por verificar-se que, ao receber este trato que lhes impinge vincos ou pregas antiestéticas e uns pontos débeis nas pregas, é como se perdessem umha dimensom.
Por esta razom deveriam aparecer os cartógrafos de livros que projectam os globos poéticos na forma habitual. Está claro que umha projecçom deste tipo poderá realizar-se de várias maneiras, e
de facto devem aparecer defensores de métodos diferentes.
O problema, é claro, será maior nas glovelas.
Enquanto um cartógrafo de livros será fiel à superfície, conservando o peso em proporçons exactas entre as diversas descriçons, haverá outro que será fiel à longitude, com o qual as personagens recebem a descriçom originalmente mesurada, mas entom estas nom aparecem relacionadas entre si do modo adequado.
Tamém poderám ser fieis ao ángulo, conservando assim os pontos de vista, mas entom algumhas relaçons de suma importáncia ficam desmembradas.
Nos globemas estará a dificuldade tonal, os efeitos sonoros, as recorrências inerentes à linguagem poética que os diversos métodos modificam.
E cada um dos métodos teria as suas vantagens e os seus inconvenientes, polo qual será impossível determinar categoricamente qual das formas de representaçom será a melhor.
Os problemas acabariam por ser tam grandes que globemários e glovelas,
aproximadamente à volta do 2005, irám eclodir num passadismo estridente que deixará lugar
a um novo salto qualitativo.
A prospecçom da nossa Consultoria nom ultrapassou este limite temporal, nem entrou no novo campo,
do mesmo modo que na minha pesquisa particular tamém fiquei nessas margens, salvo para advertir a previsível sorte final da inovaçom hoje lançada.
No 2005 desaparecem sobretudo as glovelas da cena activa, pervivendo exemplares caros de obras notáveis, fabricados em material elástico de mais longa duraçom.
Estes exemplares guardam-se com o mesmo fetichismo dos livros clássicos em
casas e
museus, nas estantes e sobre os pianos de cauda. O progresso tecnológico permite reproduzir mais precisa e nitidamente livros-planos e livros globo, até em
virtual
realidade tridimensional.
O leitor pode levar, por exemplo, para a
cama
ou para o
banheiro,
um pequeno aparelho tipo transistor que lhe permita projectar fisicamente, de forma plana ou esferóide, só com letras ou com imagens, silenciosamente ou com som, a sua leitura preferida.
Os globemas voltarám, entom, à primitiva posiçom de fetichismo que no início asignara o informe da nossa Consultoria ao livro.
Postas assim as cousas, decidimos lançar a inovaçom apenas com
carácter testemunhal, precedendo com este proémio ou síntese explicativa, na
esperança de nom ilusionar inutilmente a povoaçom.
Para nom provocar falsas expectativas de novos postos de trabalho, numha situaçom
sócio-económica delicada nos países da área (no que se refere a
fabricantes de fibras elásticas, licenciados em
filologia chamados a ser cartógrafos de livros, e livreiros e conservadores de museus),
decidimos apresentar simbolicamente um exemplar de globema, com o resto do material
literário projectado na forma mais convencional do livro plano.
O exemplar que se exibe, elaborado artesanalmente e com apresentaçom esmerada e ainda sem inchar, será distribuído só por encomenda especial conjuntamente com o livro plano.
É de uso privilegiado em
sessons literárias em que a leitura se realiza em voz alta, sobretudo em locais em que se consumem bebidas.
Como normalmente é necessária umha dose de
álcool para vencer a natural inibiçom dos protagonistas, tal e
como nos ensinou a praxe do movimento RONSELTZ (cocktel literário), recomenda-se que seja o próprio encarregado de ler o texto quem tamém inche o globema.
Assim, os músculos que vam intervir na leitura ficam purificados pola renovaçom continuada do ar,
os vapores do álcool passam ao globema dando-lhe leveza apreciável
(de modo a permitir mesmo que o globema paire entre o público assistente),
e a cabeça do declamante entorpece-se um bocado por
causa do esforço, com o qual a leitura fica libertada de influências mentais posteriores ao que está no texto do globema.
Por outro lado, a leitura do poema global nestas condiçons permite que, quando já
se lhe deu umha volta à esfera de leitura, se possa seguir lendo tranquilamente, dado que na seguinte volta a esfera conta algo novo.
E o mesmo acontece na terceira volta. Para além do virtual uso desportivo do globema, que certo público culto sempre pode usufruir em
períodos estivais de praia,
e com carácter socializante.
O método tem grandes vantagens diante da exposiçom plana, mas será um fracasso parcial por razons de espaço e de moda.
Por isso cremos honrado lançar tal "projecto ilusionante" com este relatório,
na esperança de evitar na parte da humanidade interessada polos livros umha revoluçom
em grande escala que deixe no 2005 as cousas mais ou menos como estavam o 15 de Julho de 1997.
Consequentes com o exposto, o que temos diante é a projecçom de textos de forma esférica sobre um papel normal, um plano possível do poemário global.
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