Xosé María Álvarez Blázquez (1915-1985) - Notas sobre a história d'Os Ruíns

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Notas sobre a história d'Os Ruíns
Celso Alvarez Cáccamo
26 Abril 2008

     Os contos de Álvarez Blázquez "Os Ruíns" acabam de ser reeditados por Galaxia (2008), com edição de Carlos Bernárdez e prólogo de Alfonso Álvarez Cáccamo. Durante tempo, pensou-se e afirmou-se que os contos estavam inéditos. É certo que Álvarez Blázquez nunca os víu impressos em livro, como era a sua ideia original. Mas, por que se estendeu a ideia de que os contos de Álvarez Blázquez "Os Ruins" nunca foram imprimidos?

Primero Acto

     Como agora se sabe, os contos "Os Ruíns" (originalmente escritos em espanhol quando Álvarez Blázquez tinha uns 17 anos, e auto-traduzidos para o galego um par de anos depois, em 1934), e pensados inicialmente como livro (como se vê nesta carta de Álvarez Blázquez a Ánxel Casal), foram finalmente imprimidos no número de homenagem que a Asociación de Escritores da Galiza lhe fez a Ánxel Casal na revista Nós (núms. 139-144, do segundo semestre de 1935).  Este número, porém, não foi distribuído polo golpe de estado: os fascistas destruíram a editora e os fundos, e executaram Ánxel Casal.

     Porém, algum exemplar imprimido mas sem encadernar deste número 139-144 sim que se salvou (um exemplar, como veremos, estava nas mãos de Xosé-Ramón Fernández Ojea, "Ben-Cho-Shey").

     O que talvez não se conheça é o resto da história d'"Os Ruíns".

Segundo Acto

     Em 1970, a Real Academia Galega promoveu a publicação dum número extraordinário de Nós (ao qual dará o número 145), com motivo do 50º aniversário da revista. Foram convidadas a colaborar neste número todas as pessoas que publicaram algum texto em Nós.  Alguns recusaram o convite.  Mas Xosé María Álvarez Blázquez, que já era académico numerário da RAG desde 1964, nem foi convidado a este número extraordinário, nem figura na relação de pessoas que, por uma razão ou outra, não aceitaram colaborar.  Por que?

     O número extraordinário da RAG de 1970 inclui um Índice final de todos os números de Nós, onde figuram todos os textos da revista, incluindo alguns do último número de 1935, mas não os textos do final, como os contos "Os Ruíns". Isto é: Xosé María Álvarez Blázquez não figura neste Índice. O último artigo indexado é um de Vicente Risco sobre o Grial, que consta com a numeração truncada. Por que?

     Porque em 1970 o grupo da RAG que elaborou o número extraordinário e o Índice não contava com todo o número 139-144 de Nós que não fora distribuído, mas apenas com uma primeira parte ou caderno, que acabava na metade do artigo de Risco.  Os textos a seguir do de Risco, entre os quais estava "Os Ruíns", não foram indexados. Portanto, em 1970 parecia que Álvarez Blázquez nunca publicara em Nós.

     Apesar de que também a segunda parte do núm. 139-144 se salvara, e de que talvez um par de pessoas do mundo cultural galego tinham um exemplar completo, o grupo da RAG que preparou o extraordinário de 1970 e o Índice de Nós não se preocupou de localizar o segundo caderno, ou a informação não circulou bem. Por exemplo, Xosé-Ramón Fernández Ojea "Ben-Cho-Shey", que nunca foi académico numerário ou não-numerário da RAG e tinha um exemplar completo, evidentemente nem sequer devia ter conhecimento do projecto da RAG, pois, se o tivesse, logicamente teria fornecido uma cópia do seu exemplar para a elaboração do Índice da revista.

Terceiro Acto

     Em 1979-1980, a editora Galaxia emprende a importante reedição facsimilar da revista Nós, em vários volumes.  Agora o número perdido 139-144 sim que é reproduzido integralmente, incluindo os contos "Os Ruins". No volume 6 e último da reedição, de 1980, Galaxia reproduz também o número extraordinário da RAG de 1970, numerado 145.

     Neste último volume 6 da série facsimilar inclui-se também um Índice de toda a revista Nós original.  Mas no Índice, apesar de que "Os Ruíns" já estão reproduzidos na reedição facsimilar, Xosé María Álvarez Blázquez continua sem aparecer como colaborador de Nós. Outros textos doutros autores publicados a seguir d'"Os Ruíns" tampouco estão referidos neste Índice.  Por que?

   Porque Galaxia se limitou a reproduzir também facsimilarmente o Índice incompleto de 1970, como se fosse completo, sem preocupar-se de revisá-lo nem de actualizá-lo. Embora entre 1970 e 1979 já se tivesse localizado a segunda parte ou caderninho do número 139-144, e apesar de que presumivelmente nos projectos de 1970 e de 1979 participavam algumas pessoas em comum (pertencentes tanto à RAG como a Galaxia), a reedição de Galaxia consistiu apenas em reunir o material antigo e acrescentar um prólogo de Francisco Fernández del Riego. Portanto, de novo Álvarez Blázquez e outras pessoas continuavam sem aparecer como colaboradores de Nós, embora os seus contos (e os outros textos dos outros autores) estivessem aí.

     Durante tempo, os investigadores e estudiosos galegos, para localizarem material na reedição de Galaxia de Nós, provavelmente acudissem em primeiro lugar ao Índice incompleto, onde Álvarez Blázquez estava e está ausente. Eu próprio revisei esse Índice e consultei a reedição facsimilar há anos para pesquisas e nunca soubera que aí estavam "Os Ruíns".

Epílogo

     Nos arquivos de Xosé María Álvarez Blázquez conserva-se uma breve nota de "Ben-Cho-Shey", enviada desde Madrid em 1974, acompanhando uma fotocópia dos contos "Os Ruíns".  Isto é: foi "Ben-Cho-Shey" quem lhos facilitou a Álvarez Blázquez.  Este, portanto, sabia que os seus contos finalmente foram imprimidos.

     Anos mais tarde, o próprio Álvarez Blázquez forneceu a Galaxia alguns números originais de Nós para completar a reedição facsimilar de 1979, originais que nunca voltariam para a colecção particular de Nós de Álvarez Blázquez. Mas, sabia Álvarez Blázquez que a reedição facsimilar incluiria um Índice aparentemente completo que na realidade não era tal?

     Ignoramos quem forneceu a Galaxia um exemplar da segunda parte do perdido número de Nós 139-144 para a reedição facsimilar de 1979-1980. Mas é evidente que o diálogo entre as pessoas e o bom-fazer falhou, tanto no número extraordinário da RAG de 1970 quanto na reedição de Galaxia de 1979-1980.

     É apenas lógico supor que, se em 1970 Xosé María Álvarez Blázquez tivesse sido convidado pola RAG (instituição à que pertencia) para colaborar no número extraordinário de homenagem a uma revista tão fulcral como Nós, que acolhera a sua primeira publicação literária importante em galego (e, significativamente, num número adicado a Casal pola Asociación de Escritores), Xosé María teria aceitado o convite, ou, em qualquer caso, teria-se escusado por razões pessoais de força maior (a morte da sua filha "Colorín" aconteceu no mesmo ano de 1970). Mas, em qualquer destas duas hipóteses, Xosé María Álvarez Blázquez figuraria e teria sido reconhecido como um dos colaboradores de Nós durante a vida da revista.

     A isto se encaminhava a sua produção não só literária ("Os Ruíns") mas também investigadora (como algum artigo inédito em galego do mesmo ano de 1936, que só víu a luz na Galiza bastantes anos mais tarde, durante o Franquismo, já auto-traduzido para o espanhol). E não é muito imaginar que, se as circunstâncias históricas tivessem sido outras, Álvarez Blázquez teria passado a fazer parte da "geração de relevo" do grupo Nós e do Seminário de Estudos Galegos.


Página elaborada por Celso Alvarez Cáccamo. Última actualização: domingo, 04 de Maio de 2008.