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Reflexão com o Iraque, Ruanda, Burundi
e tantos outros ao fundo
Carlos Velasco Souto
Na minha opinião estamos a viver uma conjuntura
enormemente semelhante à do estalido da II Guerra Mundial.
Quiçá a única diferença seja que os horrores
directos da guerra não nos afectam imediatamente a nós nesta
ocasião. Os que sofrem os bombardeamentos e aportam a carne de
canhão estão, decerto, em latitudes bem distantes; daí
que na Europa não se perceba claramente a magnitude da tragédia.
Assistimos ao surgimento de um novo tipo de fascismo
a escala planetária. As suas formas externas são diferentes,
sim. Mesmo é possível que, em rigor, devêramos chamá-lo
de outro jeito (ou se quadra não, quem sabe?). Mas a sua essência
criminal e genocida é exactamente a mesma. Não há cruzes
gamadas nem braços em alto. Sim um idêntico desprezo pola vida
e o direito alheios; o mesmo jeito arrogante, fachendoso e prepotente perante
os seres inferiores: esses incivilizados terceiromundistas
neste caso; igual espírito de cruzado civilizador e
salva-pátrias. E o pior é que, a diferença daqueles
anos trinta, não há resistência organizada frente ao
avanço da barbárie. Não temos III Internacional nem
cousa alguma.
Velaí os tendes: os altos mandos U.S.A. e a sua
greia de eunucos amestrados europeus, todos cheios e ufanos; esses
homúnculos tão semelhantes àqueles franco-britânicos
de 1939 que certeiramente denunciara dom António Machado: os que nos
venderam ao fascismo na nossa guerra civil. A História colocará
este montão de esterco humano no seu sítio. Mas quem sabe sequer
se essa História será conhecida polas grandes maiorias herdeiras
do desastre... Em todo o caso, quem há pagar as consequências
do seu monstruoso crime? Que esperança haverá para os pobres
deste mundo e para os homens e mulheres dignos que ainda fiquem, agora que
até a U.R.S.S. desapareceu e os seus sucessores aceitam o rol de indignos
monicreques-comparsa em troca da humilhante esmola de Ocidente?
Tanto horror só é possível numa
humanidade fundamente degradada.
O foro dos assassinos
Reuniu-se outravolta o conclave dos poderosos deste
mundo: F.M.I., Banco Mundial e mais instituições da alta
finança, os negócios e o poder político.
Como em anteriores edições, gentes dignas
da mais diversa condição mobilizaram-se em protesto contra
a grotesca carnavalada dos carniceiros de traje e pasta-carteira.
Por efeito das suas sábias, expertas e
benfeitoras recomendações (ou simples chantagem
disfarçada, mais bem), milhões de seres no mundo continuarão
a afundir-se na desesperação e na miséria,
perpetuará-se a depredação suicida do planeta, moreias
de meninhos serão explorados, maltratados até à
extenuação ou lançados sem contemplações
à rua, quando já não sirvam ou sobrem; legiões
de pessoas padecerão tortura e morte às mãos de sinistros
funcionários de provada fidelidade ao desígnio de tão
magnos e respeitáveis próceres.
Eles, nem se inteiram. |
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