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Çopyright pensamento, crítica e criação |
63 |
13 Set. 1998 |
http://www.udc.es/dep/lx/cac/sopirrait |
Corunha - Galiza |
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Três autores:
3. Leopoldo
María Panero Çopyright conclui aqui a série dedicada a três autores que provavelmente nunca saberão da nossa existência: Ray DiPalma, Erica Hunt e Leopoldo María Panero. Çopyright também sabe mui pouco deles. Nada há neles em comum, além do feito de estarem vivos. Entre os três, pertencem a dous países diferentes, a dous géneros, a dous sexos, a dous livros, a dous lados da loucura. Simplesmente, os três compartilham o azar de terem sido traduzidos por divertimento, e de acabarem aboiando na mesma gaveta. Por tudo isto, por todo este azar sem fronteiras, e porque merece a pena lê-los, estes três autores são nossos. Como tudo o que não leva um nome de Pátria.
Três poemas Leopoldo María Panero (Versões de M.J.H.V.)
O LAMENTO DE
JOSÉ DE
ARIMATEIA
Não suporto a voz humana, mulher, tapa os gritos do mercado e que não volte a nós a memória do filho que nasceu do teu ventre Não há mais coroas de espinho que as lembranças que se cravam na carne e fazem uivar como uivavam no Gólgota os dois ladrões. Mulher, nem te ajoelhes mais perante o teu filho morto. Beija-me nos lábios como nunca fizeste e esquece o nome maldito de Jesus Cristo
ETA MILITARRA
Tenho o costume de matar na mão na mão e nos pés que se mexem lentamente sob a cúpula do corpo. Hábil como um espectro percorro a cidade borracho como um vivo, sereno como um morto, e assombro-me diante de aqueles que vivem. E excitam-me os seus lábios cor-de-rosa quando dizem «vem» «vem matar-me já que sou um espírito»
(De Contra España y otros poemas no de amor,
1990)
DESEJO DE SER PELE-VERMELHA
A planície infinita e o céu o seu reflexo. Desejo de ser pele-vermelha. Às cidades sem ar chega às vezes sem ruído o rincho dum ónagro ou o trotar dum bisonte. Desejo de ser pele-vermelha. Sitting Bull morreu: não há tambores que anunciem a sua chegada às Grandes Pradarias. Desejo de ser pele-vermelha. O cavalo de ferro cruza agora sem medo desertos abrasados de silêncio. Desejo de ser pele-vermelha. Sitting Bull morreu e não há tambores para fazê-lo voltar do reino das sombras. Desejo de ser pele-vermelha. Cruzou um último ginete a infinita planície, deixou trás-de si vã poeirada, que depois se desfez no vento. Desejo de ser pele-vermelha. Na Reserva não aninha serpe cascavel, mas abandono. DESEJO DE SER PELE-VERMELHA. (Sitting Bull morreu, os tambores gritam-o sem esperar resposta.)
(De Así se fundó Carnaby Street, 1970)
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