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António Gancho

SINTAXE


Aonde a planície já não tiver um sentido
e os campos forem já só o horizonte
aí o teu vestido há-de ser cor esmaecido
e sobre ti a minha fronte.
Por te sobre os joelhos uma flor rubra
por te no lugar das pernas o mais amor que me houver
aí onde a flor deixa o pólen
aí o sémen mulher.
Por te sobre o sémen o gemido do teu acto
por te sobre o gemido
a planície sem sentido
aí o teu vestido há-de ser cor esmaecido
por te sobre as pernas me dilato.

AMOUR


Para que os teus dois seios sejam duas pombas brancas
e eu seja para ti o dono do pombal
para que o teu pombal seja nas tuas ancas
e eu o teu senhor matinal

Para que te a manhã te seja nos teus seios
e as tuas pombas brancas fiquem da cor de mulher
para que as tuas ancas já sejam as tuas ancas
e o teu pombal uma metáfora qualquer

Para que te eu o grão de todas as manhãs
de todas as manhãs a te distribuir
para que as tuas pombas voem do pombal
e todas as manhãs assim me distrair

Para que os teus dois seios as tuas pombas brancas
que o teu senhor há-de afagar
por ti e sobre ti e sobre as tuas ancas
o teu senhor te há-de amar.


Mário Cesariny

como a vida sem caderneta
como a folha lisa da janela
como a cadela violeta
-ou como a violenta cadela?

como estar egípcio e mudado
no salão do navio de espelhos
como nunca ter embarcado
ou só ter embarcado com velhos

como ter procurado tanto
que haja qualquer coisa quebrada
como percorrer uma estrada
com memórias a cada canto

como os lábios prendem o copo
como o copo prende a tua mão
como se o nosso louco amor louco
estivesse cheio de razão

e como se a vida fosse o foco
de um baço lento projector
e nós dois ainda fôssemos pouco
para uma tempestade de cor

um ao outro nos fôssemos pouco
meu amor meu amor meu amor

Quando aqueles que chegavam
olhavam os que partiam
os que partiam choravam
os que ficavam sorriam

abate a conjuntiva; lê-se sobre o verbo comer

como a vida sem caderneta
como a folha lisa da janela
como a cadela violeta
-ou como a violenta cadela?

como estar egípcio e mudado
no salão do navio de espelhos
como nunca ter embarcado
ou só ter embarcado com velhos

como       os lábios prendem o copo
como
o copo prende a tua mão
como
o nosso louco amor louco
como cheio de razão

como. Se a vida fosse o foco
de um baço lento projector
e nós dois ainda fôssemos pouco
para uma tempestade de cor?

um ou outro comêssemos pouco
meu amor meu amor meu amor


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