As gramáticas das "Línguas Gerais" sul-americanas como um capítulo da historiografía lingüística ocidental


Cristina Altman

Universidade de São Paulo


Ao contrário da América Espanhola, onde os missionários produziram gramáticas das várias línguas com que entraram em contacto às dezenas, na América Portuguesa, durante os séculos XVI e XVII, apenas duas línguas foram codificadas: o Tupinambá, ou Tupi Antigo, descrita pelos jesuítas José de Anchieta (1534-1597) e Luís Figueira (1575-1643) e o Kiriri, descrita por Luis Mamiani (1652-1730).

Quanto à natureza da língua-objeto destas gramáticas, é possível flagrar duas posiçäes antagônicas na tradição brasileira de estudos das línguas indígenas. Para Frederico Edelweiss (1969), por um lado, a língua descrita por Anchieta é o legítimo Tupi indígena do século XVI, diferente da Língua Geral falada pelos mestiços e colonos; na avaliação de Mattoso Câmara (1965), por outro lado, a língua descrita pelos missionários é um Tupi "simplificado", língua utilizada por todos, nativos e colonos, e, por isso mesmo, chamada Língua Geral.

Como quer que tenha sido, o fato é que o número de línguas do Brasil colonial só é possível ser estabelecido por estimativa, e que os primeiros missionários "lingüistas", tanto Portugueses quanto Espanhóis, grosso modo, não foram motivados pelo registro desta variedade lingüística, mas sim pela elaboração de gramáticas que permitissem a outro missionário não-nativo o rápido aprendizado da língua em que deveria exercer sua catequese. Neste sentido, é inegável que o trabalho dos missionários acabaria por favorecer o desenvolvimento de normas -orais e escritas- de muitas das línguas que descreveram. Este texto, ao mesmo tempo em que busca contrastar certas particularidades das tradiçäes espanhola e portuguesa de descrição lingüística missionária, revê o conceito de "língua geral" face a alguns aspectos da política colonial Ibérica e a função que nela exerceram as artes de gramática.


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